ODE À QUERIDA AISHA...

Tinha os olhos castanhos esverdeados, o dorso amarelo caramelado, e movimentava-se com a cadência de alguém já em plena idade da sabedoria...

Bastava o ruído de uma chave no portão, o da partida do automóvel, ou, qualquer outro que ela, com a costumeira vênia, logo surgia de algum lugar...

Parava, sentava-se e esperava que a convidassem a entrar. Assim era Aisha, amável, carinhosa, sociável, educada...

Fazia cinco anos e meio que éramos vizinhos.

Sempre pelas manhãs, Aisha parecia querer dizer-nos “bom dia”, desejar-nos boa sorte, revelar-nos confidências de labradoras...

Hoje, ao voltarmos da praia, fomos surpreendidos com uma notícia que muito nos entristeceu...

O bom vizinho Marcelo, com quem Aisha convivia, valendo-se de todos os eufemismos, dissera-nos que Aisha havia partido...

Que não tivera tempo para despedidas... Que notícia triste!!!

Aisha também parecia sentir-se feliz por morar em Porto Novo, no extremo sul da estância balneária de Caraguatatuba.

(...) Aisha, querida, onde quer que você agora esteja, gostaríamos que soubesse do quanto lhe somos gratos por suas visitas matinais, por todas as lições que o seu silêncio nos ensinou...

Lembre-se, Aisha, de que assim como o mar e a terra, o céu também tem lá os seus mistérios...

E agora que você já é uma estrelinha, tome cuidado com os asteroides errantes, com os inimigos alienígenas, com esse insano trânsito espacial...

Daqui da Terra, estaremos olhando para o alto.

(...) Quem sabe você ainda possa vir a ser a mais recente descoberta da astrologia; uma nova constelação, um signo do zodíaco, ou, simplesmente, a nossa bem vinda estrela guia...

Até um dia querida Aisha, até um dia....

Texto de Zizifraga

Janeiro de 2016