Almas trocadas

Almas trocadas

E a esta sedução quase indizível, subterrânea entre troca de olhares, tão aparentemente, inocentes. A sedução das mãos que se buscam cegamente, loucamente ! num arfar de movimentos ritmados, como um bailar de gaivotas transparentes...

O febril incenso que da pele exala em um silêncio esmagador

adentrando os poros mais sutis dos pensamentos, rodopiando qual vertigem!

E a esta sedução de vozes que adentram os tímpanos como ponta de língua

a buscar o suspiro, cravejando as garras nas coxas, como se fora apenas carne.

Este emaranhado de pele que se confunde tanto, ao ponto de perderem-se em espasmos indefinidos... e o calor que abriga o abraço, as línguas em fúria ou terno cansaço, e não há mais o espaço! e não há mais lençóis, não há cama nem quarto, estão nos confins do universo, versando o tátil encontro, na malemolência de uma nuvem e outra, na cadência de um mar de coisas, como ondas, até o fim.

Até o desabrochar do sol, quando as janelas finalmente acordam, e só ai se percebem adormecidos, pedaços ainda dos sonhos, filhos do latejante tilintar de horas que acorda o dia, e na maciez de um riso parcamente ensolarado, se desejam bom dia.

E a sensação do todo a percorrer os veios mais profundos da pele, que lentamente desperta, levanta e caminha calmamente até acender o sentido do olfato, quando uma água quente escorre iluminada e fumegante e dissolve o pó de café, que mergulha quente na garganta, qual negra cachoeira e sai em busca das almas, que por hora, ainda dormem...

Aconchegadas e letárgicas, trocadas!

Uma no peito do outro. Enroscadas ainda,

dentre os negros pelos ou nas suaves rendas do cetim prateado.

Márcia Poesia de Sá. 2015

Márcia Poesia de Sá
Enviado por Márcia Poesia de Sá em 10/02/2016
Código do texto: T5539072
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