O meu coração era uma loja de vdros belos, caros, de formosura ímpar. De candura era seu teto máximo, suas diretrizes claras, a imagem envidraçada de uma alma foragida, quiçá deste que se queda no corpo faminto ou traidor. E era loja de debates do ser e do permanecer, do ter e de uns exílios antigos. Tinha de vidraça não só à frente, mas em cada canto cristais delicados, flôres de tecissitura vítrea, fáceis de quebrar. Diante da  mesma, o Sol que reparte em cantos, de luz decente, se deixa deleitar favores e pendores. E de vidro caro era o meu íntimo que se diz coração nunca enfermo.
  Esta casa de departamentos tão diversos, onde existe a riqueza do cristalizado amôr. A grandeza que se dispõe a nunca perder este brilho, a transparência vívida. E quantos muitos ousaram estilahçar somente a frente, mas que nunca por detrás me ameaçaram furto de qualquer sentimento de vitrais. E meu amôr mais antigo está em espelhos vintage de orgulhos feridos antes. E os meus amores recentes são moldados de feitio mais incisa porcelana, E tem tantos salões vazios...
  E idem de procelanato é este espírito que anima este coração lojista, que não visa lucros  nunca e que admite perdulários. Sou de coração assim como uma loja de jóias que parecem sem valor, despidas do lapidar desvelo. E se outrora amei, em algum lugar de cômodas de vestes de pele, carne e mente, eu presidia mal o encanto de amar outro desigual..
   Um dia esta loja cardíaca de imediatos sonhos se transtornou em amores inebriantes e falsos. E da mentira o tijolar que demolira os muitos vidros carissimos, sobreveio o mal que machucava o íntimo como campo de batalhas sem armas! E, como dói ter sua casa de vendas sem lucro te arranhar as promessas, e veias saltadas cáidas de emoção! O quanto custou recuperar essa tempestade sem trovões...e quebraram tantas desilusões!
    Em algum lugar desta avenida que me pertence, na vida como sou, a loja que me restou, existe a esperança que não sonha como flores de plasticos, as quais desejam viver e são artificias demais. E tamanha esperança ainda visita a loja de cristais ou meros vidros, meu cardíaco desencanto enfurnado na alma que jamais se faz cliente. E na infelicidade naufragou-se uma parte da edificação. Porém, esta loja de molduras frágeis, além dos vidros citados alhures pelo desejo de antes, necessita amôr, E tem consigo a esperança de encontrar a certeza de terceiros que realmente possam amar, deixar o troco corretissimo, e declamar que sou amada nessa loja de alvará redecorado... 
  De fato, estarei sozinha, pois o tempo me recua os tijolos de minha recuperação vital...

      

               
       Não tive, jamais impedi, nunca pertenci. Como agora o ontem me dilacerava...