Sob o Olhar da Deusa

É noite.

Ela está lá : majestosa, “quase” intocável.

E observa...

O homem que dorme sobre o jornal,

A mulher que exibe os belos seios,

O menino que cheira cola,

A garota que amamenta na calçada,

O travesti que sorri,

O casal que sai do Municipal,

O executivo que mira o relógio e percebe que a vida passou,

Eu ...

Ninguém A nota exatamente,

Mas Ela esta lá : majestosa, “quase” intocável.

E observa ...

O colorido dos semáforos,

As lanternas dos automóveis,

Um gato que pula de telha em telha,

O cachorro que revira o lixo,

A prostituta que apanha,

O carro que é roubado,

O índio que é queimado,

O gari que tenta limpar toda essa sujeira,

Eu ...

Ninguém A nota exatamente.

Mas Ela esta lá : majestosa, “quase” intocável.

Senti, então, a leve brisa envolvente como uma delicada mão a erguer meu rosto para que pudesse olhar meus olhos e penetrar minha alma.

Permiti.

Senti toda a suavidade daquele carinho.

Um inebriante perfume invadiu minhas narinas e inundou o universo.

Nos entregamos...

E estávamos lá : majestosas... já não mais intocáveis.

Nossos passos seguiram uma coreografia estranhamente familiar, seguida pelas batidas de nossos corações que se confundiam com a toada de um baixo.

De repente, luzes de todas as cores pulavam nas fachadas como bailarinas e fadas.

Os pés continuaram a bailar convidando o corpo a participar da festa!

Ao baixo juntaram-se a guitarra, flauta, violinos, harpas e a percussão de nossos corações.

Neste momento o mendigo, a mulher, o menino, a garota, o travesti, o casal, o executivo, o gato, o cachorro, a prostituta, o ladrão, o gari ... nossos corpos ... estavam entregues ao balé de seres mágicos emoldurados por Ela !

Que estava lá, majestosa, não mais intocável : A LUA !