O relógio

Quem inventou o relógio não sabia sonhar

Ficava a marcar o pulso da vida

O tempo a passar

Decerto trocava poesias por convenções

Quem inventou o relógio não queria o reino dos céus

Oh! De toda invenção foi essa a grande grade. Que prisão

Fico a imaginar o inventor contando mentalmente: um, dois, três...

Depois, o ponteiro girando pra ele, um, dois, três...

E o desespero nos olhos do artista vendo o tempo passar

Grita um compromisso de hora marcada

A composição voou da escrivaninha pro balde de lixo,

Amassada com raiva

A inspiração ficou pra depois, se voltar

E a meta do poeta, cronofóbico por natureza foi ganhar na loteria

Por que viver de poesia, não havia mais tempo.