timbre dos gens

o timbre do outono desce com seu ar sombrio e sofrido de hades. cravos infeccionados e profusos cavam buracos que crescem profundos. crisântemos sobre as palavras abafando gritos debaixo de antiquárias ruínas e escombros. o silêncio de abril no granito de luz. vazio úmido de jardim-jazigo encrudescendo vozes e cadáveres na casa-túmulo. o cuco na fria parede conta-horas de outrora e de agora num dejavu. dança de arraias como hemorragias n'água, o sangue na correnteza do tempo, a veia cava véus de vômitos e hélices de sol cerrando o cérebro. a natureza morta se debruçando sobre esse ab_surdo silêncio de monturos de mortos e línguas enterradas vivas. infantes choram o ante abismo e antecipam o fim na gravidade da luz. permeio o calcário íntimo crepitando dentro da crosta. a inocência coberta de pó espesso se levanta da carne no invisível vácuo e indômita vomita caracóis de verbos. rejeito e nego a nojeira dos genes e papiros impostos como cruzes fincadas nas entranhas. passo submersa e apunhalada de venenos e vícios como um relâmpago sangra a sombra. treme o vácuo. atravesso sozinha como sulcos de gilete na cara e nos pulsos o sangue em versos. eu atravesso o cheiro podre e a insônia dos ossos na sepultura.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 18/04/2016
Reeditado em 18/04/2016
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