Bom Velhinho.
Oitenta anos de idade, beirando a morte!
Sai de casa todos os dias bem cedinho para comprar pão, cigarros e conhaque...
Cumprimenta os doidos da esquina e os cães de rua...
Volta para casa, come pão com manteiga, toma três doses de conhaque, fuma um cigarro, respira fundo, tosse feio e olha através da janela, por uma fresta na cortina, olhinhos fundos, mastigando um lado da boca, e assovia para os pássaros pousados na antena do vizinho...
Sua patroa, dona Alberica, o deixara há dois anos, vítima da vida.
Seus filhos ficaram bem sucedidos e mudaram para a Capital.
Não o visitam há seis meses.
Ele têm sete cães com os quais dorme abraçado assistindo a sessão da tarde.
Gosta de bang-bang à italiana e macarronada no jantar...
Toda vez que vai à missa nos domingos fica vendo as canelas das velhas e faz o sinal da cruz pedindo para não pensar bobeiras...
Sabe que está morrendo, que suas lágrimas secaram, que seu intestino não funciona mais direito, que demora horas no banheiro e até chora de dor...
Sempre cumpridor de seus afazeres, ainda exerce o direito do voto, joga nas loterias, acredita no Papai do Céu e quando os galos vão dormir ele vai também, abraçado nos ursinhos de pelúcia que ganhou da bisneta...
Sempre chora um pouquinho, mas só com a boca aberta e vendo a lua pendurada lá no céu...