PANTOMINA
O grés da tardinha já se vislumbra por detrás do rio…
Quisera eu saber-lhe da disposição, para completá-la
Melhor, quando, surgindo do horizonte, eu fosse
Passear meus dedos pela pantomina das janelas,
Demoradamente distorcidas pelo vento que vai lá fora.
Gatos que passam, levando sombras consigo, são
Repasto para profetas e outros alquimistas,
No balaústre de suas torres de babel, quando não,
Sei-o agora, castelos se vão desmoronando,
Soçobrando aos tempos actuais e inflexíveis.
Vitrais de igreja se engalanam, para os rituais
Nocturnos, professando o fim do mundo e a continuação
Do Laicismo. Misantropia que a noite empresta aos
Incautos e fracos de espírito, colhendo das beatas a
Seiva, sufocando-as no seu próprio vómito.
E eu dou por mim lendo Cândido ou o optimismo, de
Voltaire, por sobre o piano de cauda lá de casa…
Cortinas balançando tocam meu rosto… como então, aqui,
O monstro simétrico, de tudo o que não tem volta,
Estátua farta de verdete no cimo hercúleo de seu plinto?
Jorge Humberto
10/07/07