Zefa

boneca de pano negro

como alta noite

pintada por mãos já cansadas

da lida de uma vida

de terna avó, sem restrição

linha a linha costurada

cada ponto com um conto de carinho

em cada miçanga

dedinho de prosa

em cada retalho da roupa

cheirinho de alfazema

presente sentido, ganho como prêmio

de bom grado, pelas brancas mãos

de uma pequena boneca-menina alva

que desconhecia o mundo segregador

e qual não foi sua dor

ao notar que suas amigas

igualmente cândidas

com suas bonecas neves

de olhos azuis, qual turmalinas

com sua boneca Zefa,

não queriam brincar!

hoje, uma boneca-mulher crescida

pergunta-se em que momento da vida

inicia-se o apartheid...

será que neste mundo

só há lugar para Barbies

com cinturas finas e trajes de alta costura

que não coadunam com Marias e Zefas,

feitas de retalhos, miçangas e pontos feitos à ternura,

por enrugadas mãos de um ser com um enorme coração?...

São Paulo, 01.05.07

Caroline Schneider
Enviado por Caroline Schneider em 13/07/2007
Código do texto: T564204