Noite de Náusea

Quando dois cães raivosos se encontram dentro de um mesmo recinto-pessoa, o resultado é quase sempre um triplocídio.

Na noite instalada

Há sempre um grande Homem sobre mim.

Ele despeja golpes a punho fechado alucinantemente sobre meu peito dormente.

O Homem tem raiva, tem ódio, tem asco, tem febre de matar-me pouco-a-pouco.

Golpe após golpe eu mergulho no não sentido esclarecedor. Esclarecedor?

O grande Homem se deita ao meu lado; eu o olho nos olhos e ele chora.

Choro.

Eu toco seu peito dolorido e enfio minhas mãos incisivamente até chegar ao seu coração viscoso.

Choro mais.

Eu aperto o coração do grande Homem, dói muito. Dói como a insuficiência respiratória pré-morte: uma rajada de vento cortante direcionada ao músculo cardíaco.

Eu descobri o verdadeiro sentido enterrando minhas unhas afiadas no coração do grande Homem. O sentido... é não haver sentido.

Pobre grande eu-Homem. O deus que me-nos fez com tanta sentimentação esqueceu-se de me-nos avisar que não há sentido nenhum para essa loucura coletiva chamada vida.