Não sei

Não sei se você gosta de dormir pouco ou muito, se você dorme com um animal de estimação ou prefere a cama inteira só para si, se gosta de se perder nos braços de alguém, se sonha ou apenas descansa.

Não sei se você chegou mais longe do que augurava, se as circunstâncias te conduziram a outros trajetos e em cada experiência você se descobriu, se as mudanças te assustam mais do que o medo delas em essência.

Não sei se você comemora o dia do seu aniversário ou se a discrição te define melhor.

Não sei se você algum dia também não via a hora de se formar na escola porque aquele lugar era um inferno ou se você era o tipo que participava das agremiações, praticava algum esporte, falava em público e até do grupo de teatro participava, também opinando ardentemente nos debates políticos e filosóficos.

Não sei se teve um amor de corredor ou foi a paixão de alguém, se teve mais amigos do que livros ou a condição inversa.

Não sei se a saudade é maior que a tensão ou se você se atém ao momento e desfruta do balançar dos galhos das árvores e da sombra que é um convite muito escrachado à felicidade, dos instantes de folga, das mordidas despretensiosas na torrada.

Não sei se você resiste ao que não pode mais mudar, se teme o futuro ou também conta com os imprevistos que servem de apagador em nossas lousas e reescrevem toda a tarefa; se você compreende que a experiência dolorosa de hoje reverte-se em entendimento em um amanhã imprevisto.

Não sei de que maneira você contorna a pressão que te cerca, que nem sempre é das pessoas porque em alguns casos provém de nós mesmos a ânsia de nos destacarmos naquilo que sabemos fazer de melhor, queremos sempre progredir, mostrar que nossa capacidade não se limita a uma área somente.

Não sei se é mais tímido que extrovertido ou tem um pouco dos dois, se é tímido de ocasião e extrovertido quando convém, se tem muitos amigos, em quantos confia, se você conta boas piadas ou as estraga, mas ainda assim exala senso de humor.

Não sei quantos se perdem com suas ironias, quantos sapos você de vez em quando é obrigado a engolir.

Não sei se você gosta de uma batida de rock, se curte jazz ou prefere MPB, se já teve algum "vício" nesse sentido, se gosta de dançar músicas lentas, se seus passos são muito imitados, se você se importa com o que vão comentar acerca das suas coreografias ou se conta mais matar a vontade de ir até o meio da pista e deixar a imaginação te conduzir.

Não sei quando seu café estará no ponto, se você gosta mais quente, mais amargo, com leite, descafeinado.

Não sei qual é sua bebida favorita, sua citação para todos os momentos, os livros que você poderia me recomendar, aqueles que você gostaria de ter escrito ou dado um desfecho diferente, se você gosta de ver os filmes nas (não tão) confortáveis poltronas de cinema ou se prefere o conforto de casa ou em função da correria, o Netflix, se você é o tipo que janta fora ou acaba por ser adepto ao Delivery.

Não sei se você gosta de beijos mais calmos ou ardentes, se você beija com o olhar primeiramente, se você olha tão fundo que desvenda os segredos mais obscuros, se você beija com as mãos, se você gosta de abraçar bem forte.

Não sei se você funciona melhor à noite ou na parte da manhã, se tem alguma superstição que não assume nem ao pé do ouvido ou "não lê o horóscopo do jornal", que música você ouve várias e várias vezes quando está sozinho, se ainda tem algum sonho de criança que você se perde ao recordar, algum trauma curioso ou insuperável.

Não sei se você prefere o Ano Novo ao Natal.

Se o frio te acolhe mais.

Se a ideia de verão eterno também te satisfaz.

Se apesar dos pesares, você ainda se considera simples o bastante para afirmar sem receios que não há melhor tempero que a comida da nossa própria mãe.

Não sei se de vez em quando você queria o colo dela, se tem vontade de voltar a brincar na rua sem preocupação nenhuma e só voltar para ao escurecer, sem pensar em todos os problemas.

Não faço ideia de qual seja seu time de coração, se é que torce. Se quando discute política é mais moderado nos argumentos, se seu posicionamento é de esquerda ou direita ou talvez precise votar no "menos pior", se faz silêncio em troca de uma sadia convivência.

Não sei se você gosta e cuida de plantas ou até gostaria, mas não tem tempo sobrando.

Se você teve algum bichinho de quem carinhosamente lembra, se quando volta para casa todas as noites tem um rabinho ansioso abanando a fim de festejar porque você chegou.

Se você também acredita que o cão é um grande amigo, talvez não aquele que vá te aconselhar com intermináveis monólogos, mas simplesmente vai te confortar com a presença, te abraçando com dois olhinhos meigos e inocentes que sempre haverão de aliviar seu fardo quando você estiver chateado.

Não sei se você interpreta a poesia pelo que ela não exprime, se algum dia você já rabiscou versos de amor, depois escondeu, apagou ou se verseja o concreto, baseado no que a própria escrita diz de si mesma.

De que maneira você enxerga e vive o amor?

Não sei de quase nada e sinto tudo.

Eu amo quem eu vejo, o pouco que sei porque também sei que ninguém sabe tudo de ninguém, quanto mais de si.

Eu amo sem explicação, apenas por amar.

Eu amo esse sonho do qual nunca despertei, que não sei se é mais que sonho ou se a realidade que tanto temi me induz a perguntar para, quem sabe, um dia ser respondida.

Você nem sabe que meus olhos entregam todo o meu bem querer.

Sei de pouco, mas o que sei me basta: com você meu coração se sente em paz.

Meu coração te escolheu antes de se dar conta.

Não sei explicar. Não é preciso. Um dia você vai olhar nos meus olhos e sentir que mesmo antes de você saber o meu nome, eu sempre estive aqui e por você mil vezes escolhi lutar, ficar.

Embora tenha muita coisa que eu queira esquecer, não sei se faria diferente se todos os meus passos de um modo ou de outro me levassem até a você.

Agosto/2013
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 25/05/2016
Reeditado em 01/05/2018
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