Diário de um poeta

Curitiba, 01 de janeiro de 2009.

Disseram-me que os poetas são tristes. Eu não quis acreditar em ninguém.

Como uma boa poetisa eu procurei por alguma verdade, afinal, a verdade é o que cada um acredita ser.

Felicidade antecede a tristeza que cede lugar à inspiração que chega de manso, tira o sono no meio da madrugada só para escrever um monte de versos dedicados a tal da pessoinha amada.

É isso aí! Poeta faz da dor o seu sustento. Suspiros de casais apaixonados provocam o grande faturamento do comércio no mês de junho.

Poeta tem fama de ser muito pessimista, chato e um tanto masoquista porque é o sofrimento que traz a luz.

Os poetas são as estrelas que brilham e escrevem o mundo numa folha de papel.

Quantos mundos existem, afinal?

Poeta sem liberdade é um jardim sem flor. Uma vida sem amor é percorrer um caminho, chegar ao final e não saber por que andou.

Disseram-me que os poetas são tristes. E de onde vem a explicação para a tristeza?

O inverso da alegria talvez, quem sabe...

Tristeza de viver a solidão no seu sentido amplo e verdadeiro porque os poetas vivem enclausurados em possibilidades de um tempo chamado passo.

Melancólicos e saudosistas ao extremo. Bons compositores, versos de sucesso.

Poetas vivem num mundo particular em que não é permitida a entrada de pessoas estranhas.

Preciso de mais café, vou amanhecer aqui.

Essa tal da metalinguagem está presente em minhas anotações, às letras fazem festa dentro de mim.

Poeta da madrugada, da incompreensão. Versos livres para imaginar, a arte de enxergar o que há na essência, o que não é visto.

Hora de interpretar e compreender.

Os olhos se fecham devagar, a caneta rola pela mesa e a cabeça encosta-se ao tampão da escrivaninha. É melhor dormir um pouco, descansar a alma.

Poetas trabalham até dormindo. Mais vagabundo é quem me diz e não faz metade do que eu já fiz.

Se eu morrer hoje, vivi muito pouco, eu sei. Mas o legado das palavras permanecerá e para sempre sei que viverei, suportando as crises existenciais e andando sempre na corda bamba, não olhando para baixo com medo de cair.

Quem vive com medo não vive.

Numa taverna qualquer desta vida, talvez me encontre segurando uma xícara de café e com o caderno no colo.

É a coragem que faz tudo acontecer.

Poeta gosta de ser diferente do restante, por isso disseram-me que os poetas são rebeldes.

Versos sem verdade não valem metade. A métrica pode até ser perfeita, mas é o mesmo que não dizer nada.

A inspiração é um recurso ilimitado, são os poetas que se restringem a dizer o que julgam necessário.

A tristeza faz o poeta pensar. Folhas de papel ocupam em totalidade o cesto de luxo. Se souber começar vai saber terminar.

É preciso de um bom verso inicial para poder chegar a um bom final.

Disseram-me que todo poeta é esbanjador, mas só quem escreve sabe que é difícil conseguir transformar dor em versos.

Quantas árvores ainda serão derrubadas até a inspiração dar as caras?

Quantas xícaras de café serão bebidas?

Meu remédio para gastrite já acabou.

Quantos suspiros de lamentação ainda virão?

Poeta tem essa mania de querer perfeição.

Nesse ritmo complicado e difícil de acompanhar, vive a alma imortal de uma jovem poetisa que faz pesquisa e pensa antes de falar porque a palavra pode ser o veneno ou a cura.

Disseram-me que todo poeta é questionador e do quanto gostam de falar de amor.

Em breve virá um novo poema e, talvez, um novo amor sempre prometendo levar embora as lembranças do anterior, sempre intenso e mágico no começo, desta vez é eterno e verdadeiro, é olhar que inspira a metade que completa e no fim termina sempre igual.

Dedicado a todos os meus amigos recantistas. :)

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 04/06/2016
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