O Frio da Alma.

Ontem a noite estava fria.

No posto de gasolina alguns abasteciam seus tanques e uivavam canções de alegria.

Os cães dormiam amontoados num canto próximo ao calor dos carros estacionados.

Havia uma aura de nostalgia no ar.

Não sabíamos ao certo em que lugar estávamos.

Não sabíamos nem em que País estávamos.

Nós três ali, no meio do nada, cada qual segurando a ampulheta do tempo, tremendo sob o frio da alma.

O temperamento oscilava entre um riso sonolento e um olhar para o vazio..., enquanto o vento penetrava entre as frestas de nossas roupagens fechadas.

Tremíamos, mas não tínhamos medo de mais nada. Certamente, se um comandante louco nos convocasse para uma batalha, iríamos com a faca entre os dentes e olhares vítreos de quem não tem mais nada a perder.

Do outro lado da rua ônibus estacionavam e despejavam estudantes famintos e apressados, que saíam como enxames de uma colmeia, atordoados e aparentemente perdidos de sono e cansaço, ziguezagueando cada qual para seu lado.

Conversávamos sobre um pouco de tudo, as coisas da vida, as decepções, ânsias e angústias. Abracei minha garota e disse que iria embora... Era tarde...

O sono vinha profundo e voltava como o balançar de um navio...

Não queria ir embora. Talvez quisesse ficar ali para sempre, abraçado a ela, aquecendo-nos, antes que nossas ossadas congelassem e o sol nunca mais nascesse.

Quando abri os olhos era dia e os homens com seus carros de som, serras e berros formavam a existência. Apalpei meu pedaço de corpo e ergui-me...

Não restava outra alternativa a não ser viver...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 13/06/2016
Código do texto: T5665839
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