Please Mr. Postman

Não; as cartas de amor não são ridículas! E se fossem, o que há que errado nisso? A dor e o amor (na maioria das vezes) também são estupidamente ridículos. Diferente dos e-mails e das mensagens de texto que enviamos bêbado após uma briga tola, elas são verdadeiras, têm mais poesia na caligrafia trêmula pelo nervosismo e ansiedade transformada em angústia à espera da reação de quem vai recebê-la. As cartas são, antes de tudo, um depositário dos nossos sonhos mais íntimos e dos sentimentos mais profundos. A mão desliza paulatinamente sobre a folha em branco fotografando nosso interior fazendo um raio-x da nossa alma. Vez por outra, a saudade entra em cena e vai desnudando ainda mais aquilo que o orgulho tenta em vão encouraçar; dá aquele aperto e uma lágrima sorrateiramente cai manchando a palavra já manchada outrora com um resquício de desejo e de conhaque. Uma vez concluída, assinada e perfumada a carta, envia-se ao destinatário com aquela certeza de que há mil formas de amar, mas que só uma carta de amor nos traz a sensação e a prova do quanto somos capazes de querer o outro centenas de vezes num só dia.