A Calhandra

Grasna pela noite, criatura triste

Espalhe pela neblina da madrugada

O teu soluçar contido.

Quem na verdade és?

Vulto turvo escondido nas sombras

Presença imposta que o ébano corou.

Por que persegues a mim?

Desafortunada figura noturna

Perdida nas tétricas ruas de Candarrá.

Deixe-me seguir com a malograda vida

Herdada de um passado em debalde

Fardo régio de um destino injusto

Não vá desperdiçar seu canto aluado

Com minha historia medíocre.

Voe para bem longe

Leve consigo este teu grasnar tristonho

Nascido do remorso e do meu desgosto

Afaste tua melodia lúgubre desse existir

Forjado na mais profunda inércia.

Para que tripudiar sobre tão confusa alma

escavando nos meandros dos pensamentos

Memórias dilaceradas por magoas vendidas.

Ciente sou, que carregas aprisionada

A alma daquela que roubou meu coração

Quiça, se outrora fosse hora

Viveríamos na plenitude dos nossos sentimentos.

Reza a lenda que a calhandra da noite

Segue todos aqueles a quem a culpa atormenta

A cada por do sol e em cada morrer da lua

Seu canto entoa em coro o lamento insano

De todas as almas que sucumbiram um dia de amor.

Se assim for, peço que esqueça-me

Não sou merecedor de tão dedicada atenção

Busque grasnar tua cantiga fúnebre

Para outro que usufrua de algum tipo de vida

Já que, isso que possuo, jamais será uma.

Ciro Bevilacqua
Enviado por Ciro Bevilacqua em 05/07/2016
Reeditado em 09/12/2020
Código do texto: T5688758
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