Tempo algoz

Que mau juízo faz de mim o tempo?

Que convertido em ausência, me toma as horas de meu dia

Quê, algoz tempo, queres mais tomar de mim?

Já não te basta minha juventude? Os sorrisos que não dei, por tua falta?

Que mais queres de minh'alma inquieta?

Bebestes todos meus versos, um por um, em deleite vertiginoso.

Que mais queres dessa voz que cala?

Não me sobram poesias para cantar as distâncias que impusestes nessa jornada.

Rouba-me, tempo atroz! Rouba-me os shakespeare e os machados, aprisiona-me nessa teia de heráclitos e tucídides. E por Clio, te rogo o perdão, das horas que não te dediquei louvores.

Apenas deixe-me, tempo, deixe-me envolta nas minhas lembranças, nas fotografias da alma, que se desenham lentas e embaçadas.

Abandona-me aqui solitária engraçando as nuvens, distraindo os relógios, brincando de faz-de-conta.

Mas, por Gaia, que faceira aguardo o momento de seu triunfo, não dista-me nem mais um segundo daqueles lábios.