Casa de três lados

Enquanto mastigava o tapete da sala, eu assistia, lá fora, os corpos caindo do vigésimo andar.

O tempo que viria após o entardecer, traria novamente uma esperança de qua algo mudaria, e que o vento levaria embora, as minhas pegadas pelo teto.

Os fios de cobre que atavam minhas mãos , pouco a pouco adentravam a minha carne, mas eu era indiferente ao sangue, pois lá dentro do apartamento, ainda era a única coisa que se movimentava, e causava alguma surpresa.

Nada de novo. A esperança se arrefeceu, e aquela seria mais uma noite comum, entre tantas. Os mesmos letreiros luminosos, apontando com suas setas o centro da terra, que indicavam o caminha mais rápido para o inferno.

Um turbilhão de enganos cheios de prazer, que fazia mais espêsso o ar, e tornavam minha vida, isso que vocês estão vendo. Esta insuportável necessidade de existir, e justificar o peso que faço sobre a terra.

Por que nada mais cresce. Por que as nuvens de gás sulfídrico não se acumulam em meus pulmões?

E assim, o tempo só era contado, todas as vezes que um corpo caída do vigésimo andar, em direção ao inferno.

Lá embaixo, os anjos se acotovelavam para conseguirem uma senha rumo ao vácuo. Não existir, é melhor que ser um condenado.

Os átomos de meu corpo, se recusavam a permanecerem juntos. Se dissolveram, e o que restou foi apenas memória. Mas não sendo eu matéria, posso considerar existente o tempo?

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 20/07/2007
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