Um caso a três
Cena: quarto do apartamento 23.
Personagens: Dominic e Vivian
Horário: 07:15 da manhã
(Ainda deitados na cama)
- Precisa mesmo fumar todas as manhãs? Perguntou Vivian.
- É, eu sei. Esse monstro tem sido um dos mais difíceis de espantar.
Ela acariciava o peito liso de Dominic.
- Teve uma hora da noite que você gemeu um nome.
- Que nome?
- Lavínia. Quem é essa pessoa?
- Uma pessoa do passado em que me relacionei por um breve período.
- Quer falar sobre ela? Já faz alguns meses que você anda mais calado do que antes. Ainda mais agora sem poder ir às suas consultas com Sr. Pacheco.
- Eu era jovem. (Houve um silêncio no qual Dominic olhava o vazio, com o olhar perdido, congelado). Eu conheci essa mulher que era detetive. Ela estava no meio de uma missão e eu ainda não sabia bem qual era. Ela havia dito que estava investigando uma líder do tráfico de drogas numa penitenciária feminina. E de alguma forma ela precisava se relacionar mais intimamente com aquela traficante. Até então, eu não poderia imaginar que ela algum dia poderia vir se apaixonar por aquele caso montado.
- Nossa! E você gostava muito dessa Lavínia?
- Na verdade, até hoje eu não consegui encontrar algum nome para aquele sentimento que tive por ela. Foi único, intenso, e talvez o mais dolorido. (Sem ofensas). Disse Dominic ao encarar o rosto de Vivian, e acendeu outro cigarro.
- Mas o que aconteceu?
- Bom, quando Lavínia gritou o nome daquela moça em uma noite em que fazíamos sexo, eu senti finalmente o gosto da traição. Ela ficou desconsertada porque além dela ser minha mulher, aquela aventura proposital mexeu com ela de alguma forma, e ela se machucou muito quando finalmente prendeu aquela meliante. E no final das contas ela perdeu dois participantes de seu jogo: eu, e a drogada.
- É por causa dela que você é assim?
- Na verdade, sou uma montagem mal feita. Quebrada, colada, quebrada de novo, e quando finalmente pensei que ajeitaria os últimos cacos, fui vendo quantos degraus eu ainda tinha pela frente para continuar esborrachando até chegar ao chão.
- Então você chegou ao chão!
- Às vezes penso que não. A minha vida é uma série de decepções. Nasci amaldiçoado.
Vivian o encarou com um semblante triste, quis abraçá-lo, mas ele já não estava mais lá. Seu corpo, sim, mas sua alma já tinha saído daquele quarto e ido até Lavínia, em busca de respostas.