DIAS TORTUOSOS
 
     A minha porta não é tão forte quanto parece! A tranca que a protege não é tão indestrutível quanto se apresenta ser. Possui chave, porém, muito bem guardada. Mesmo assim, há dias em que esta fortaleza treme, parece ruir a meio de tudo e de todos! Ventos fortes que trazem melancolia, tristeza vaga, destino incerto num mundo cada vez mais louco, pronto a nos engolir sem mastigar! Sabe esses dias em que a tristeza sem pedir permissão vem chegando-se, aconchegando-se num ritual silencioso, insano, destrancando nossos olhos que se deixam derramar em lagrimas sem sentido, retrancando cantos em encantos mudos, sem brilho... nos amordaçando os sentimentos!

     Então abro a porta de meu coração e procuro você numa prospecção cintilante de minha alma. Garimpo meus pensamentos e só encontro fragmentos, escuridão rutilante. Se me apareces, mesmo num efêmero momento atemporal, sinto que o sol entra em mim feito fio de navalha afiada, cortando-me a carne, dilacerando desejos, empurrando-me para regiões abissais, descomunais, marginais... Intransponíveis!

     Rebuscar teu ser dentro de mim é um exercício gostoso de fazer embora isto seja o segredo para tanto sofrimento. O que fazer então com minha fortaleza violentada por tua ausência? Me diga? Angústia sem você, sofrimento em você! Que fruto proibido é esse que minha fome não pode saciar! Ensina-me então a matar esta saudade e te amar nesta distância que separa o ser do ter...Pelo menos agora!
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 03/10/2016
Reeditado em 03/10/2016
Código do texto: T5779892
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