Minha terra 


Minha terra tem fuzil AK-47
assim como os de Alepo ou de Palmira
Onde balas traçantes  disputam o  céu com fogos de artifício na noite do réveillon...
e  acertam o peito varonil dos garotos do Brasil
minha terra é um imenso campo de morte e a vida não vale nada
aqui se vive sob a paz dos cemitérios é a terra onde o cancão pia
um grande necrotério
nossa guerra é mais sangrenta e intestina do que a da Síria,
Nessas plagas  se mata por fome, negligência, violência gratuita, por prazer, a cada ano milhares e milhares de jovens em sua maioria negros e pobres engrossam as frias estatísticas
O nosso céu tem mais estrelas e nenhuma estrela guia
nossas várzeas estão tomadas pelo esgoto a céu aberto
nossas cidades pelas grades e pelo sangue,
nossos bosques são de eucaliptos importados da Austrália
nossa vida tem mais ódios e nosso ódio nos traz dores
As aves, ah as aves! As que aqui  gorjeavam buscam outra serventia
o que aqui tem mesmo são urubus em busca de carniça 
e até onde os sabiás cantavam tornou-se um campo infestado de areia movediça
o Brasil brazilianiza-se,
os sertões estão indo abaixo!
Por  imposições do mercado
minha terra é um campo minado! Um lugar conflagrado
Índio, seringueiros, ribeirinhos morrem assassinados, 
e todos somos assaltados seja pelo Estado ou pelos bandidos nas  esquinas,
ou somos atropelados pelos carros desembestados
aqui a singeleza de andar de bicicleta torna-se um perigo: bueiros são campos minados, tem arrastão, bala perdida, polícia corrupta, milícia...
nossa metáfora é um corpo atado  a um poste esperando que alguém lhe dê algum sentido
as barragens inundam selvas, rios destruídos tracajás sumindo
a caatinga vira um imenso deserto
os mangues estão desaparecendo em seu lugar erguem-se prédios de luxo, condomínios fechados,
os campos gerais são um imenso pasto e suas montanhas vindo abaixo pela sanha devoradora das mineradoras;
E a lama escura e fétida escorre para o Rio Doce como uma metáfora a céu aberto; 
o cerrado está vindo abaixo restam poucos  pés de floresta nativa;
a Amazônia torna-se um cerrado,
E tudo se degrada a olhos vistos
minha terra é a terra do progresso desordenado
aqui se adora dinheiro mais que em outra freguesia 
o capitalista é um selvagem que impõe selvageria
o Estado é movido à propina e sem quase nenhum serviço prestado a quem devia estar a serviço
a miséria moral coexiste com a miséria propriamente dita
é o país dos privilégios - o senhor tem foro privilegiado?
Qual sua casta da burguesia de Estado?
(Mas nos dedos da Sra. Cabral não pode deixar de brilhar os diamantes da Van Cleff presenteados por Cavendish o bem aventurado presidente da sacrossanta construtora Delta;)
Meu país é um  país de falsos  pastores de lobos guardadores de ovelhas que alugam as consciências de suas vítimas para alimentar sua sanha  mercantilistas com  suas igrejas e partidos da última hora e do último dia, 
Há  um Salvadoir para todos os tipos e gostos!
Deus permita que eu vá embora e não retorne mais para cá.   
Ou que ele ao menos não me condene a viver aqui em outra encarnação
permita-me viver no Afeganistão, Paquistão, Azerbaijão, Curdistão,  mas não no Brasilinistão!
 



 
 
Labareda
Enviado por Labareda em 08/10/2016
Reeditado em 11/03/2018
Código do texto: T5784917
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