SOMBRA E PÁSSARO

Acordo e me pergunto: dormi?

Já não sei.

Minhas mãos correm para o celular;

meus olhos buscam, e nada encontram – nem oi, nem chamada perdida.

Vou até a janela, e ouço o dia me perguntar:

“Esteve com ela?”

Respondo que sempre estou com ela, mesmo que ela não perceba, mesmo que não sinta. Estou lá, caminhando ao seu lado.

Pergunto ao dia, diante de sua luz:

Vê minha sombra?

E ele responde:

“Não, mas sei onde ela está. Está junto com a minha – longe de nós, perto dela.”

É...

Nem minha sombra ficou.

Tudo foi com ela.

E de que adianta aceitar ser pássaro, e voar alto no infinito de um coração?

Preciso de mais.

Preciso tocar, sentir, tê-la.

Se for para pássaro ser, me deixe voar alto... mais alto que as montanhas.

E depois, nas mãos que em meu corpo não consigo deixar de sentir, pousar;

o rosto que tantas vezes para mim sorriu, beijar até ficar cansado;

e cantar, tal qual bem-te-vi, tal qual rouxinol, apenas uma melodia:

eu te amo.

Quem sabe assim você acredite;

É...

Quem sabe assim você ouça, já que os gritos do homem a montanha abafa.

“Voar, voar; seguir, seguir;

ir por onde for...”

Sempre em tua busca – talvez em esperança vã.

Mas o pássaro não quer voar para outro rumo;

O homem não quer se “entregar” para outra, e iludir, usar para esquecer o que ele sabe não poder.

Sem sombra o homem fita a estrada e a montanha.

Como pássaro se imagina, e alçar vôo tenta.

Bate as asas em busca de uma corrente de ar,

que traga apenas uma palavra: vem.

O homem uma vez pediu uma frase, e não ganhou;

o pássaro só pede uma palavra;

e a sombra do homem caminha sem ele... mas ao teu lado.

Caminha triste por você teimar em não entender que ele te ama;

triste por ser dia sem brilho;

triste por você não dizer vem,

deixando o pássaro voar alto,

e descer do infinito de seu coração,

transformando-se em homem ao teu lado,

permitindo a dia e noite novamente sorrirem um para o outro.

24/07/07

Balbueno
Enviado por Balbueno em 25/07/2007
Reeditado em 25/07/2007
Código do texto: T579059