Em Busca da Perfeição

Mergulhando no sentido de não fazer aos outros o que não gostaríamos que fizessem conosco, percebemos a fraqueza das palavras. Cada indivíduo tem um modo único de pensar e perceber o mundo. Não fazendo a outrem o que não gostaria que fizessem comigo certamente incorrerei em erro, já que certo e errado, bem e mal estão intrinsecamente ligados a certo ponto de vista, certa cultura, certa época. E a prova maior é a de que quanto maior a interação entre dois indivíduos, mais eles se conhecem, mais eles percebem diferenças entre si e mais eles se distanciam. Casais mais antigos que se comunicam somente quando indispensável, e grandes amizades que acabam em estrondosa inimizade. Você certamente já viu isto acontecer. Conviver é caminhar para o ódio e intriga, ou, numa visão mais branda, é caminhar para o erro. Não por sermos pessoas ruins ou vazias, mas por sermos falhos. Reconhecer nossos erros, traumas, problemas em família, além dos defeitos e convicções erradas de quem nos é próximo, é uma árdua e solitária escalada, que pode durar uma vida inteira. E aí caímos em mais um erro; o da solidão. Solidão esta que não nos permite saber se realmente estamos evoluindo nesta busca por um estado mais perfeito, ou o contrário; estamos virando velhos rabugentos e paranoicos, com idéias retrógradas e preconceitos arraigados. E nossos sentidos incitam à comparação; claro-escuro, quente-frio, doce-amargo, melhor-pior. Isolado, o sábio não terá como perceber se é um tolo, e comparando-se certamente incorrerá em erro. Então me vêm à mente dois estereótipos em extremos opostos deste dilema: o indivíduo popular, que agrada as massas com sua sinceridade, desenvoltura e espirituosidade, e o tímido, mais culto, mais fechado e nem sempre mais profundo, o amigo dos momentos introspectivos. Ambos se acham bons. Ambos são falhos. Tudo que seus olhos vêem pelas ruas sua mente compara, como se isto fosse uma forma de ordenar e organizar suas idéias; uma roupa melhor, um mar mais azul, um carro mais novo, uma mulher mais interessante, um desafio maior, um recorde a ser ultrapassado, uma viagem mais proveitosa, enfim, mais e mais comparações. Um grupo de amigos são pessoas com algumas afinidades, que podem durar mais ou menos, e que estão juntos para auto-afirmarem suas idéias e comportamento. Mesmo que todos estejam errados eles protegem-se do caos e da loucura vendo-se em seus companheiros. Isto é a sombra do egocentrismo; nós queremos nos ver o tempo todo, numa imagem idealizada, e rejeitamos o que não entendemos ou achamos estranho, ou diferente, ou exótico. Observe os grupos de adolescentes, formando um só indivíduo, unidos pelas semelhanças e separados dos outros grupos pelas diferenças, que existem de um indivíduo para outro, mas são menores dentro de cada grupo.

Evoluir é ver-se de fora de seu corpo e de seu paradigma, de forma neutra e imparcial. Não é ser perfeito, mas sim, prever seus erros, e tentar evitar que eles se repitam. E assim, gradativamente ir aferindo a sua auto-avaliação, lembrando sempre que as diferenças, as tempestades e as colisões entre mundos exigem mais da mente, do raciocínio e da adaptação, do que as semelhanças e o mono-tom de estar numa boiada que caminha unida para o matadouro.