confissão

meu senhor
já  puxei cadeia,  fugi a pouco
esfolei muito bucho
transformei muito vivo em presunto
mas lhe confesso,
é ouvir o guincho do porco
que  fico louco
me dói por dentro

me arde nos bofes
trabalho até por dois e de graça
mas não me chame para matar um porco
tarefa abominável!
muito menos comer sua carne,
na prisão li a bíblia com dificuldade e observei que tem um trecho em que  Moisés dizia que bicho de casco fendido era impuro, impróprio para ser comido
mas lhe confesso, não é por isso,  já comi muita carne de criação, galinha, tatu, teiú,  tatu, cabra, ovelha naturalmente a de porco
mas é que hoje não como carne alguma
e lhe digo quando num churrasco a carne  fuma e abrasa
crio asco e meus nervos ficam em brasa
é como se enlouquecesse
sei que aqui não tem grades
mas estou preso à gratidão que ao senhor tenho 
e queria de bom grado poder lhe ajudar
já que com gosto me acolhe 
sem saber quem eu sou direito
mas tremo ao ouvir o guincho do animal
na hora de seu abate
vivi toda a minha vida numa clausura forçada
e lhe digo com desgosto, hoje  não como carne alguma
nem assada, nem guisada nem ao molho
e muito menos a de porco!


 
Labareda
Enviado por Labareda em 03/11/2016
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T5812335
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