pobre diabo 

A tarde se esvai; 
cálida indiferente e severa

o sol ainda em brasa
estava prestes a desaparecer na linha do poente
Ervas seca jaziam aos meus pés
ouvia palavras combalidas,
rostos  abalados, pálidos e distantes;

Entre túmulos eu caminhava,
tudo  era pranto,
velas acesas,
cheiro de rosas;

Cruzes se erguiam no topo das lápides

Olhares vagos e tristes como uma reza;

coveiros com pressa
- última prece desce o ataúde a meio palmo,
sela-se com cimento a cova rasa.
Pergunto, de que morreu esse defunto?
- Falência múltipla da vida-suicídio!

Cansado estava da vida que levava…
amores não correspondidos,
Inquieto, decepcionado, desempregado,

desesperado, vida sem sentido
 
seu andar era de zumbi
sua pele era amarelada
a mão tremia,
vivia recentido, 

balbuciava, não falava…
andava com o rabo entre as pernas como um cão vira-lata

ferido de morte em sua dignidade

o álcool era seu único refúgio.
o meio social lhe era  hostil;
o seu coração hesitava;

nos botecos onde bebia
escutava os escrachos 
da voz  do populacho “pé na cova”
 “passaporte pro inferno”
 “vá amolar o diabo”
 “bêbado enjoado”


À época em que trabalhava na cana 
não bebia, o trabalho era árduo
sob sol à pino,
 sua vida até que era doce
em meio a fadiga da lide diária
aos poucos  o pobre diabo
foi se  perdendo na vida e tudo ficou amargo

Perdeu a mulher para o amigo,
um filho morreu de morte matada,
a filha de morte morrida,

danou-se a beber,
virou "pé de elefante”
contraiu cirrose hepática,
morreu num dia de má sorte
depois de engolir uma última dose
de água ardente
·.
 
Labareda
Enviado por Labareda em 05/11/2016
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T5814102
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