constatação

Tenho a alma  livre,
mas sou um proscrito, um exilado espiritual em meu quarto,
um estranho em minha casa,
às vezes o exílio é físico quando me sinto um estranho a caminhar por entre a gente,
sofro de desorganização psíquica e mental
às vezes procuro um refúgio e consolo, mas quando encontro me vejo novamente numa prisão maldita e odiosa
tenho uma dupla lealdade com as questões de meu tempo
vivo num conflito trágico no âmago de minha alma
e nada me acalma exceto a música;
tenho anseios por me integrar a grupos 
tenho sede por amizades novas e duradouras
mas lhe digo, me nutro de uma astúcia diplomática para manter os velhos e conquistar novos amigos
levo uma vida estranha a mim e ao outro
estou sempre distante, embora esteja perto
as idas e vindas é a razão de minha existência
tenho dificuldade em pertencer a qualquer coisa, grupos, círculos de amizades,tenho dificuldade de me reconhecer neles , de dizer "nós" não tenho espírito de corpo,
não há chão que eu finque raízes profundas e duradouras
também não sou dono de qualquer quinhão na alma dos outros
sou de personalidade irascível, intolerante, agressiva, desconfiado, pouco confiável e dado a polêmicas,
tenho atitudes chocantes e licenciosas, às vezes digo o que me vem na telha,  sofro de um sincericídio ambíguo, tenho falta de tato, logo me revelo e coloco outro disfarce;
não há valores e normas que eu me sinta preso;
vivo cheio de disfarces - poder-se-ia dizer um mascarado!
e sofro com a mania de perseguição;
estou envolto num sem número de cascas e nunca tomei uma decisão a sério;
todo instante penso em fugir para um lugar distante, antes era para qualquer região distante de onde nasci desse país vasto e quente, agora penso em ir para Portugal, Espanha, Grécia, Marrocos, Macau, qualquer lugar que  sonhe em estar lá; 
mas o fato é que tudo me entedia facilmente,
sou também obcecado por determinadas ideias que os outros tem de mime tenho uma mania de me auto-observar; 

me vejo pensar e agir com os olhos dos outros;
quero sempre mostrar aos outro o que sou, ou o que deixei de ser, dos meus projetos, o que tive o que perdi;
sou um caso doentio da auto-observação
Talvez seja um maníaco obsessivo, devo estar enquadrado em algum transtorno psiquiátrico, ou em vários;
me vejo pensando e agindo com os olhos dos outros,
revelo: é meu truque de mascarado;
eu preciso disso;
com esse expediente me transformo em testemunha ocular e espectador, sem responsabilidade,
ajo como se a vida fosse um trailer e eu ora ator, ora espectador,   vivo como quem representa para os outros um papel,
e isto me faz irônico,
brinco em estar de fora e de cima com os olhos do outro
e me transformo assim em testemunha e espectador sem reponsabilidade
sou um ser híbrido, uma mistura de raciocínio frio, ora ajo com finesa, ora sou  rude, ora sentimental, sou um amalgama tipicamente híbrido e ambíguo,
só me realizo por inteiro quando escrevo;
é quando ponho no papel, sentimentos, emoções, onde me ambiento num lugar seguro e onde posso tentar juntar ideias antagônicas e pensamentos díspares;
o jogo de contrários me atrai, o lado inverso das coisas, os paradoxos, as ideais desencontradas,
tento através da associação livre das ideias conectar as coisas mais desconexas, às vezes sou bem sucedido, às vezes não; 
sou cheio de chistes que é meu mecanismo de defesa,
tenho gosto por chocar conceitos;
reconheço que às vezes recorro a um sentimentalismo tosco
e não tenho princípios válidos
sou um espectador piegas das novelas da Globo
o desfecho das coisas que escrevo às vezes vai de encontro ao que inicialmente disse; pura contradição!
e esse recurso dá margem a que desconfiem de minha sinceridade moral e estética
mas como disse, sou instável e ambíguo
me falta à medida certa
e por aí vai;
assim sou, sem tirar nem pôr;
Labareda
Enviado por Labareda em 20/11/2016
Reeditado em 01/01/2017
Código do texto: T5828994
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