as mães de todos nós

Um mistério esse da nossa ligação com a pessoa que nos trouxe ao mundo... ela me vem em faces mais antigas, de quando tinha cabelos pretos até os ombros, eu devia ser muito pequena, vem uma pele branca e um cheiro de mãe, e o que é cheiro de mãe? Difícil explicar... mas todos sabemos, e esta memória olfativa parece mesmo a mais intensa.... Ontem ao deitar ela me veio de pé ao lado da mesinha numa manhã em que eu já tinha a minha casa e a minha vida, filhos, e eu tomando o café da manhã que ela servira daquele jeito só dela, e eu achando que ela tava bonita com o cabelo pintado de preto, cuidado, então já curto... E depois parece que ela foi ficando mais distante, à medida em que eu amadurecia e envelhecia, uma sensação de que sabia que precisava se despedir aos poucos, ela nunca podia ocupar ninguém, nem pra morrer...

Assim de vez em quando, me vejo minha mãe de repente, num olhar de relance ao espelho, descubro a sua carne na minha, agora madura. Ela aparece nas minhas filhas e quando eu as abraço, minha mãe me toca com as mãos delas, eu sorrio pra minhas filhas com o riso dela.

E sempre me vem à lembrança uma tarde longínqua em que estivemos tão próximas, eu tão míúda e o merengue era só pra mim. Aquela mãe dos meus quatro anos é a de quem mais tenho saudades.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 22/11/2016
Reeditado em 23/11/2016
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