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O ‘s’ de silêncio e o ‘s’ de saudade
 
  
Fim de tarde – tarde sem fim – porque eternizou-se em mim aquele voo solene ao som do silêncio. E uma tela é pintada, diariamente, ao declinar da tarde, pelas gaivotas que abrem as suas asas e dançam ao seu próprio ritmo sobre a pequena praia do Rio Vermelho. É ali que, a cada dia 2 de fevereiro, a Bahia acontece, culturalmente, ao festejar a rainha do mar: Yemanjá. Todavia, as gaivotas, em seu majestoso figurino, fazem festa todo dia. E assim também faz o mar da Bahia porque canta e dança para os seus deuses. E as gaivotas, sempre deslumbrantes, fazem deslizar a sua branca plumagem, contracenando com o azul do mar, dispensando, assim, qualquer adereço.
 
Talvez, quem sabe, as gaivotas sejam regidas por uma maestrina oculta, que faz o mar da Bahia dançar lento e freneticamente como o faz o seu povo, para si e para o mundo... É preciso perguntar aos deuses, que fenômeno é esse que nos arrebata e nos faz delirar, silenciosamente, fazendo bater no coração uma saudade clandestina, sem nome e sem precedente.
 
Só pode ser, como diz o imortal Caymmi, na sua doce canção: Saudade da Bahia.Da Velha Bahia? da Bahia de hoje? do seu tratado de magia? Sei lá! Porque nesta terra, cheia ritos e benditos, cheia de belezas naturais, cheia de viciosidades, muita gente acredita, assim como ele, que não é preciso apostar na glória nem no dinheiro para ser feliz.
 
Assim, eu renuncio aos meus balangandãs, de baiana vaidosa, para dançar com as gaivotas o seu balé silencioso e sentir saudades de tudo que não fiz.

(texto republicado) 
 
Nota:
Quero acrescentar aqui, um ‘s’ de samba, neste momento que se comemora 100 anos de samba. Afinal, dizem que ele nasceu na Bahia. E quero pedir aos deuses que olhem mais por esta terra abençoada, fazendo com que os homens de má índole possam se espelhar na canção do eterno Caymmi, que finaliza dizendo:
Pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz.”
 
 
 
 
Imagem: Google.