salvação miúda

Em minha peleja pela vida
a fome era chaga
a dignidade  perdida
 o rosto vencido, 
 a cara de manufatura se ia
surgia outra de abana-mosca 

abambalhado
apartado da inoscência 
descido, depauperado, fraco
arrebatado de mim mesmo

proscrito
sem ombro algum
em andrajo
desgraçadamente consagrado
na mais plena insignificância 

Sem amparo,
solidão dos sozinhos
a perambular em desvario
a procura de uma fresta que me conduzisse a esperança

O sol na  pele,
me consumia,
andar debilitado,  agastado mãos vacilantes
impelido a conviver com a infâmia

Aprendi a calar-me e a não resitir
a aceitar os golpes do destino
como um triste salmo

à noite o vento empoeirado e as estrelas me humilhavam em sua fixidez
cochilava  já com o dia com receio  de que alguem atentasse contra a minha vida  que não valia muito

Algumas vezes me amparei na agua ardente e na fumaça das pedras de tropeço 
expirementei  o êxtase e a queda
desci ao mundo dos malandros, ladrões, bandidos, rufiões, proxenetas, cafetins

me afastei com muito custo desta perdição 
ainda assim repartia a  última migalha de pão
aprendi a conviver  com a falsidade  cotidiana
e com   a suja salvação do dia a dia.

 
Labareda
Enviado por Labareda em 02/12/2016
Reeditado em 30/01/2017
Código do texto: T5841132
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