Um banquete
Toda noite espero. Tomo uma cápsula e espero pela madrugada.
Ela demora. Demora mas sempre vem.
Escrevo versos n’ água e fico desejando-a.
Ela chega, meu desejo se dissipa como fumaça.
Sinto medo, me escondo dela, nela.
Sob uma luz fraca, amarelada, que vem de um poste torto.
Essa luz não ilumina bem a rua, não ilumina as pessoas. Aliás, não há pessoas.
Mas, faz juntar insetos na calçada e cria um banquete para os sapos.
Na madrugada nada é em vão...
Nada é em vão quando se compreende apenas o lado de fora.
Não se pode tentar entende-la por dentro.
Eu vivo só o lado de fora da madrugada.
E ceio faminto junto aos sapos.
Esqueço-me do que é ser gente.