Dias

Tem dias que me adoro, da cabeça aos pés, tem dias que me odeio, dos pés à cabeça. Tem dias que me como com os olhos, me degusto saborosamente. Tem dias que forçadamente me engulo, me entalo goela abaixo e regurgito, cuspo. Tem dias que me vejo da torre do mais alto castelo, sou senhor, lorde, tenho poder absoluto. Tem dias que me vejo miserável, sujo, leproso, asqueroso. Tem dias que desejo me estender tapete vermelho, passar batom vermelho na boca e com unhas vermelhas, bater palmas para mim mesmo. Tem dias que quero o negro do quarto escuro, o negro do rímel borrado pelas lágrimas, o negro que vejo sempre ao fechar os olhos.