Natal de verão
Ano confuso, atmosfera confusa e o calendário ao lado da geladeira me induz à confusão programada.
Confiei nele o ano todo e ele brincou comigo justamente numa data que exige sobriedade e confirmação da fé cristã.
Vinte e cinco de dezembro é uma marca vermelha na folha do mês e o domingo corrobora com a cor padrão.
O parto foi a benção que ninguém assistiu.
Jesus bebê, frágil, recém nascido que chorou por leite.
O peito o acalma, seus olhos se abrem e miram a mãe.
A mãe entende tudo, fora orientada antes pelo anjo e sua insegurança se transformou em amor.
Sua mão procura José; a mão dele, áspera a afaga e a protege.
Eles têm nos braços quem dará a vida pelos nossos pecados e, um dia, humilhado e sacrificado, ressuscitará.
A manjedoura precária cumpriu sua nobre missão de receber o Salvador.
Pensei em José, marceneiro.
Ah, José... Desde o início entendeu que o filho escolheu o pai.
Entendi a missão da mãe.
Voltei ao calendário.
Mapeou o meu ano que ainda não acabou.
Já tenho outro com imã que me mostra os dias que ainda não vieram.
O ano que vem, já tão próximo para me dar o mesmo sol e a mesma lua.
A mesma segunda e terça-feira.
Outras chuvas me verão envelhecer e eu olharei para o mesmo espelho do banheiro.
Sei que a culpa não é dele e nem minha.
A culpa é do meu drama fácil.
Só quero ver o sol nascer enquanto todos dormem.
Preciso incomodar o sono e desafiar a ansiedade.
Ontem, perdi dinheiro numa sorveteria e
O que me resigna, além do nascer do sol que vejo agora
É imaginar que quem encontrou as notas sujas agradeceu a Deus pelo presente caído.
E um Papai Noel transpirava sob a roupa vermelha enfrentando o verão com dignidade.
Com a missão de iludir, presentear e recolher chupetas.