RECANTO - OÁSIS ESCONDIDO ONDE CRESCE A VIDEIRA

"Recanto é todo campo onde a persistência do coração semeia significado, é a força excelsa que dinamiza a evolução, o escudo dinâmico da humanidade, a aurora das ideias motrizes."

Livre da poeira e do vento, o oásis escondido onde cresce a videira, um mundo paralelo tecido e retorcido com nossas próprias ideias, recanto de um lugar especial, centro de reorganização das iniciativas inteligentes. É o olho de um vórtice que redireciona para o alto as memórias passadas e acumuladas, o recanto de um jardim onde a borboleta psique repousa sob as costas de um beija-flor, que com o bater das suas asas demarca a trajetória infinita da sua leveza.

Recôndito do peito, ideal sagrado onde a fúria dos leões é apaziguada, um lugar fora da influência do tempo para onde confluem todas as águas, um lugar em que a cólera das tempestades se encontra completamente entesourada.

Recanto é um berçário de estrelas, uma república de semi-deuses, astrofísicos estudando o movimento das esferas nas contas de um relicário.

A rede do indígena no seu embalo, um encanto na mata, num recanto protegido, um lar a céu aberto onde pirilampos se confundem com a fuligem que sobe no agito das fogueiras ardentes, recanto num olhar, de um sonhador discreto, com seu sonho secreto, e o reflexo do brilho das lembranças inquietas nos vidros das janelas da sua alma.

Recanto é uma mão amiga que se afirma na tua calorosamente, é o colo e é o ombro da grande matriarca que nos recebe sempre de braços abertos para aliviar a dor das nossas chagas, é onde repousa a mais fina beleza, é o ninho do grande pássaro, é a haste da flor e a fortaleza do fraco. Nosso recanto é como o colar de três dobras, a tríplice roda de jovens pigmeus entrelaçadas, crianças celebrando a infância de mãos dadas em comemoração aos dias melhores que hão de vir.

Recanto é a base nivelada do profeta em sua ascensão progressiva, com seu olhar atento aos fatos que ultrapassam os limites impostos pelas linhas e horizontes, Águias alçando voos para lutar contra as correntes de degradação humana.

É a repetição da música sem repetir o refrão, o recanto de um cântico, a delicadeza de um gesto harpejado com realeza na viola de um músico qualquer em meio a multidão, que carrega consigo sua vida penosa e sertaneja, crucificada e consagrada nas suas costas.

É a parede das cavernas com suas pinturas rupestres, é a localidade encontrada após uma longa jornada de desafios pelo caminho que leva até o pé do arco-íris, é a base de transcendência do nômade.

Do canto brotam uns recantos, enquanto os encantos de fora afloram na forma de árvores sombreiras.

Dentro o recanto é uma voz ecoando da morada dos mestres, que verdadeiramente sabem como aproveitar cada momento, fazendo de qualquer lugar um canto original para descansar e lavar as suas vestes com paciência.

É o sopro da consciência repelindo a poeira das velharias do tempo, acompanhado da chuva serôdia que banha as almas nas noites de revolução.