Anoitecer de mais um dia
Escrevo sobre o entardecer do dia, calmo como o silêncio acariciado pela monotonia do meu corpo plasmático e sonolento, envolto na melancolia amarela de todos os dias de um só dia - hoje!
... até para ler-me é preciso ser lento, ou fica tudo sem sentido...
Tenho um tipo de impressão borrada sobre o que escrevo, assim como começo a perceber a visão se misturar no contraste do dia com a noite no desalinho do lápis sobre o papel nas linhas. Vejo nítido e claro a inutilidade de todos os meus pensamentos, sobre o abatimento súbito das minhas emoções confusas. Pensar em mim é um acenar de adeus de alguém em silhueta distante...
Sinto uma preguiça nos processos internos que me torna silenciosamente atento, e percebo a luz do dia ir-se aos poucos se apagando como a chama de uma vela. Mas espera...
Cai do céu um som lá fora que gosto muito, parece que é chuva. Sim, já escuto os trovões. Me enterneço de alegria. A felicidade que me invade é fria como a chuva, como ter apenas gelo para comer quando se está a morrer de fome. Mas é minha, só minha alegria...
Chove... escureceu e não percebi, desviei-me a atenção. Meus olhos viram, mas eu não...
Um trovão, um clarão, um reflexo de olhar azul na noite, silêncio...
Solidão...