VOLTANDO DO TRABALHO

Voltando do trabalho, mais ou menos 19h00min horas eu estava na Av. Nª. Senhora do Loreto em frente da pastelaria da Sueli. Fiquei por ali porque estava uma chuvinha fina. Observando as pessoas comendo pastéis que medem por volta de 50 centímetros. Puxa! Que legal! As pessoas ali curtindo aquele saboroso e cheiroso e recheadíssimo pastel. De repente quem encosta por ali de mansinho? Um cãozinho daqueles do meu poema "in memoriam"

Ficou plantado aos pés dos consumidores vorazes, cujos olhos miravam os pastéis e ansiosos por esperar a sua fritura estavam paralisados como robôs de brinquedo sem pilha(bateria, pois os mais jovens não conhecem pilha). Nenhuma boa alma sequer parou para observar o cãozinho. Sei que não tenho nada com a vida alheia, que cada um cuide da sua sim. Mas os movimentos do cãozinho me chamaram a atenção. Ele não latia, não abanava a cauda, não piscava, volta e meia andava um pouco entre os pés dos consumidores. Sentava-se e observava com a cabeça erguida esperando um "teco" (pedaço para quem não conhece o termo) de pastel que poderia cair sem querer ou ser servido por alguém. Não obtendo resultado da sua singela presença por ali, ele baixava a cabeça e lambia a calçada. Talvez ele estivesse com sede e aproveitou a CHUVA QUE DEUS MANDOU. Não! Acho que ele lixava a língua para ativar as glândulas do paladar e talvez imaginar que estava comendo um pastel flutuando na água. Voltava a perambular entre as pessoas, sentava-se, olhava para cima e? Nada! O movimento repetiu-se pelo menos umas dez vezes. Então eu pensei e senti no coração: - "vou comprar um pastelão desses de carne e vou cear com o cãozinho". Podes crer! Vocês acreditam que eu furei a fila para comprar o pastel? Quase que apanhei e o cachorro junto. Pedi desculpas e continuei. Interessante que o cãozinho também tem o seu tempo para pedir algo. Ele começou a ir embora. Chamei-o, mas ele não escutava. Realmente não escutava! Eu assobiei, chamando de totó, teté. Tentei chamar a atenção de diversas maneiras. Ele continuou se afastando do ponto. Quando eu encostei o pastel no focinho dele então ele me olhou. Seus olhos brilhavam como se fossem as gotas da chuva com reflexos das luzes do local. Era um cãozinho muito lindo. No susto ele não havia entendido o que estava acontecendo, pois ele deu ré e sentou. Parecia que queria prosear algo comigo. Nesse instante eu pensei nos meus alunos da Escola ali próxima. Como estariam? Quanta saudade eu tenho deles! Eu continuei na meditação. O que está havendo por aqui? Meu Deus me dá um sinal para que eu possa perceber a tua presença! Fui dando em pedaços pequenos para o cãozinho não se engasgar. Porque eu sei quando seres vivos estão com fome e passam mal quando comem muito rápido. Enfim ele devorou todinho um pastelzinho de cinquenta centímetros. Reparei então que a barriguinha dele não tinha aumentado nem um centímetro. Ele continuava com fome. Ué! e os alunos da escola? Lindo demais! Quatro alunos me viram. Um ex-aluno adolescente que é o meu algoz de moral e civismo. Passou batido. Olhou para mim e não disse nada. Vai com Deus! Não fez diferença para aquele propósito. Passaram os outros alunos. Eu estava abaixado dando o pastel para o cãozinho. Elas beijaram o meu rosto. Não falaram nada! E eu só observei também! Apenas observaram. Saíram sorrindo e felizes. A melhor parte de tudo foi a soma de fazer o cãozinho feliz e alimentá-lo e perceber na minha Alma que as crianças viram e sentiram a boa ação. No exato instante que ele acabou de comer, caiu a chuva muito forte e o cãozinho foi embora. Meu desejo é que elas levem essa imagem para o resto da vida. E que o cãozinho sobreviva para fazer com que mais pessoas possam narrar a mesma história. O fato durou cerca de duas horas.

Beijo no coração dos meus amigos e dos cãezinhos de rua.

"in memoriam" cães de rua II.