Sonho de um cochilo

Traços de desenho. Animação 2D. Rabiscos de rachuras. Escurece o céu maliciosamente por trás das estrelas esquecidas, em cada cantinho das vielas das ruas esburacadas ouvê-se o vento uivar como se fosse um ruído; um hálito de vingança de criança escorre pelo ar. A linhas dançam e as cores saem fora de suas formas, os contornos se misturam. Visão em primeira pessoa: Panorâmica, interativa. Sonho? Algo espreita com olhos sorrateiros a cidade vazia, no firmamento paira um silêncio mortal de cheiro de vítima. A viela é escura, a visão é turva, súbita – pára! balança silenciosamente para cima e para baixo. Reluta. Mas... tem de se atravessar - o medo é ilusório, e por isso é tão gostoso vivê-lo. Algo está vindo. Mas o quê? O caminho é curto, escuro e perigoso. Um riso branco se abre em meio ao escuro entre duas paredes. Razão e emoção! Um coração palpita, mas não se vê ninguém...

A câmera gira no escuro e vê-se apenas a silhueta branca de um sorriso diabólico, as lápides iluminadas pela sonolência mórbida enluarada, repousam de fundo um leito calmo para se morrer. Paisagens mortas, quadrinhos em tempo real. Siga, vá em frente - Sussurra o vento nos galhos secos das árvores vencidas, amareladas pela lua. Visão em terceira pessoa: tudo se afasta; como num pesadelo, aos poucos vai misturando todo cenário em espiral, um redomoinho de mil sorrisos que explode numa terrível gargalhada branca, sem sentido como a cor. Uma borboleta bate as asas silenciosamente e vai subindo. Vai seguindo em suas asas as cinzas do medo, misturada em suas cores resplandecentes.

Abro os olhos! Estou sorrindo, maliciosamente...

Mas o que era a borboleta?...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 11/02/2017
Reeditado em 11/02/2017
Código do texto: T5909017
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