Papel em branco

“Aprendendo sobre tragadas de cigarros, sobre strip de armaduras, sobre descontrole, sobre como não bater o carro.

Sobre o descontrole.

Papel branco bem na minha frente sem linhas; cigarro aceso desenhando coisas bonitas no ar mal circulado do quarto e; uma caneta vermelha e barata.

Há dez minutos esta situação. Isto poderia ser pintado, gostaria que fosse na verdade. Congelada, por fazer questão de não mudar - atos voluntários da vida -, enquanto os segundos correm, exceto os desenhos estranhos que a fumaça do cigarro faz. Agora estranhas.

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Voltam a serem bonitas agora. Como eu disse, é a única coisa que muda, já que não há vento para ir ou vir qualquer outra coisa.

O papel branco esvazia minha mente e me engana a ponto de eu cogitar a hipótese de que me faltam pensamentos. Nos primeiros minutos é boa a sensação, porque essa amnésia instantânea me obriga a sentir a excitação dos últimos acontecimentos. Mas a angústia do papel em branco, e ainda branco, causa angústia dobrada depois que lembro do seu grande vazio.

Não consigo ignorar o barulho da merda do rádio quebrado que vem da sala. Esse barulhinho irritante! essa porra de barulho insuportável!! Impossível querer pensamentos tão previsíveis diante dele. Porque é a única coisa no mundo que eu não sei que som fará!

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Ahhhhh! Essa.. essa, porcaria! Sufoca qualquer raciocínio.”

Aí ela picou o papel branco em quadradinhos e os comeu. Ingeriu cada pedaço lentamente, um de cada vez. Nada mais que anestesiasse suas memórias absurdas do que talvez nunca acontecera.

Então pegou o resto do cigarro e fumou-o lentamente. Simplesmente deixando que as coisas cicatrizem. Simplesmente vivendo o desejo de comer aqueles papéis e simplesmente dar-lhes um destino atípico de estrada errada.

thais rey grandizoli
Enviado por thais rey grandizoli em 03/08/2007
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