PEDAÇOS DE MIM

Lembro-me ainda daquele mês, quando chegavas bem de leve, de mansinho, sem nenhum barulhinho que nem o ar se movia, vinhas tão sereno e dos meus lábios colhias o beijo e levavas cotigo um pedaço de mim... No outro dia, vinhas tão doce, suave e amável e tomavas todo o meu peito num quente abraço. Dizias então que levavas apenas mais um pedaço para que eu sempre me setisse dentro desse terno laço. Muitas noites se passaram... E contigo levaste meu corpo quase todo. Comigo ficaram alguns pequeninos fragmentos, mas eram inúteis e baldios se não estivesses por perto Ah, mas quando vinhas, meu amado, os meus pedaços se juntavam e voltavam a ser o meu corpo, desejando o teu, num raro, incomun assomo de afeto. Quando o mês terminou foi minha mente que se afastou. O pensamento vazio ficou. O raciocínio se foi, nem cálculos fazia mais, a inteligência sumiu, a leitura sem gosto ficou. Na minha senelidade as letras se embaralhavam. Minha alma foi a próxima vítima, mas sozinha já estava e sozinha contiuou. . Todos os meus sentimentos foram colocados numa gaiola. Meus sentidos voltados para um grande amor que ignoravas. Pedaços de mim que ficaram não mais se juntaram. Colar com que? Para ser levado, mas nada faltava de mim. Então quis minha poesia fazer, meu cantar triste escrever Quis ter minhas letras, minha prosa, meu verso e, como por mágica, vi o liame se desfazer O feitiço acabou, o truque se inverteu. De todos os pedaços que formam meu ser, o meu inteiro que não pode mais ser desfeito, minhas palavras que não podem presas, todos eles são somente meus, de quem mais eu quiser e do Universo. Sem fim...

regynacarvalho
Enviado por regynacarvalho em 11/02/2017
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