Sensações Noturnas.
O ranger dos dentes do vigia noturno não importuna os pernilongos que zunem ao redor de seus ouvidos...
O ladrar dos cães na madrugada de uma cidade pequena atrapalha o sono dos notívagos..
Alguns carros zanzam sozinhos em passeios noturnos enquanto seus proprietários enfastiados assistem ao noticiário televisivo...
Bêbados e malucos confusos se reúnem em surdina com suas tocas, barbas e gorros puídos sob as copas e cascas das árvores, construções e demais locais ermos e esquecidos...
Nos subterrâneos gatos, ratos e insetos travam uma interminável batalha pela sobrevivência, onde em dado momento se ouvem ruídos...
O frio faz arquear a coluna do trabalhador que enfia as mãos nos bolsos vazios às quatro da manhã sentado no ponto de ônibus, à procura de um palito de fósforo, onde noutra madrugada um casal de amantes se contorcia em seus gemidos...
As horas passam no tic tac dos ponteiros e fazem com que o poeta perca a paciência e saia a vagar pelas ruas em busca de palavras e sentimentos...
A mãe deitada há horas na cama, olhando para o escuro, espera a filha que vem dos estudos pelo caminho dos trilhos...
Havia amor e essência naquilo, e mesmo num fim de mundo uma criança, em sua puerilidade, sonhava abraçada ao travesseiro de que haveria sol no dia seguinte, e que as pessoas eram boas e que tudo transmitia uma aura de mistérios e sentidos.