O Olhar Dele

Uma tarde mansa e o mar calmo como se a meditar sobre si mesmo.

Ela sentada num banquinho de praia, óculos grandes de lentes leves observou por momentos o gigante azul em toda sua plenitude.

Depois daquele devaneio que o oceano impõe a seus visitantes, ela olhou para seu acompanhante.

Cabelos grisalhos, rosto pesado, quadrado, estranho, um par de lentes negras invisibilizavam seus olhos, suas frontes eram queimadas e sua tez mostrava as marcas de vida ao relento, olhando aquele rosto ela não teve duvidas de que aquele era um ser que gostava da vida ao ar livre, das gotas de chuva no rosto, que enfrentava o sol de frente e certamente não se desviaria da ventania.

Ela se deu conta de que ainda não conhecia seus olhos, mas sabia de sua voz rouca e seu gesticular moderado e imprevisível.

Certa vez disseram a ela que ele era um boêmio, um andarilho e que gostava da noite.

Seria ele como o urutau que se manifesta a noite e de dia finge que não existe.

Ela fez um tom de voz forte e perguntou a ele: "gosta do mar?".

O velho senhor demorou alguns segundos para reagir e ela chegou a duvidar que ele estivesse presente naquele corpo, tal sua imobilidade, mas ele se virou lentamente e retirando os óculos olhou atentamente, primeiro nos seus lindos olhos e em seguida a notou por completo.

Ela percebeu que no primeiro olhar a sua alma e seus segredos mais escondidos foram revelados, no outro se sentiu despida completamente e compreendeu que ele agora a conhecia melhor que ela própria.

Ele em resposta sua pergunta falou: "prefiro viver sabendo que existe o mar".