Envelhecer

Sinto que a minha juventude está indo embora. Eu sei que está, parece precoce, mas desconfio que ela esteja demorando até demais para ir. Já não a vejo em meus colegas, nem em gente da minha idade. Já me sinto feliz o suficiente por ter tido, porque muita gente nem chega saber o que é sonhar demais, e ter uma imaginação forte. Tão forte que não se pode dar asas, porque ela mesma é a asa, os pés, a cabeça, o corpo inteiro. Partes de corpos que não existem. Um corpo de não animal. Na minha cabeça, as asas não precisavamm servir para voar, elas não precisam servir pra nada. Elas só existem e isso é ótimo e suficiente. No mundo real, elas não poderiam existir. Ainda mais sem servia. Tenho uma leve desconfiança que as coisas que não servem pra nada são as mais bonitas e puras que existem, ou não existem. A tal da felicidade, serve pra nada desse vida! Igual a imaginação, eu imaginava ser feliz e eu ficava feliz daquele jeito besta. Longe de tudo, de todos, eu era intocável.Se alguém chegasse perto demais, eu podia voar com as minhas não-asas. Eu ouvia música sem a rádio tocar, eu fui a um milhão de shows no banheiro de casa, eu beijei tanta gente que nunca fui capaz de fazer lista. A realidade é bonita também, mas como ser nostálgico que sou, já estou morrendo de saudade daquele delírio imaginário que eu mergulhava por horas e horas. Agora só fico uns minutos.E já não consigo mais. Está chegando, meu tempo parece estar acabando. Não é ruga que mostra a idade da gente. É a força que a gente insiste em manter essas coisas especialmente inúteis que faz o coração ficar quentinho.