Na paz da minha guerra

A bondade me cansa como um monótono relógio
Minha compreensão se tornou incompreensível
Minha paz resolveu questionar tanta tranqüilidade
Num revés veio-me o que há de irracional em mim
Interrogo a cada instante a aceitação do formidável
Uma transtornada calmaria após um vendaval inquieta-me
Um cansaço de aceitação me parece mais um abandono
Já não sei se é pacífica ou passiva tanta permissividade
Transbordei minha taça de tolerância abstrata e inútil
Qual a verdade da calmaria senão que o lago congelou?
Mas o fogo está e queima, inquietas labaredas são contidas
Tal quietude me traz um leve, quase imperceptível terror;
Terror do que será e no que será que explodirei num instante
A qualquer instante, sem que haja sinal, serei mil partículas
E daí? Um tremor vago, mudo como um grito fotografado
E daí? E daí?

Não sei realmente o tamanho da catástrofe que me serei