OS DIAS DE CHUVA
Não sei quanto a você leitor, mas para mim, chuva sempre foi motivo de lembranças, maioria boa, maioria de infância.
Vejo por hora, em meio às garoas e tempestades, crianças que se divertem com a rigidez e surpresa que a chuva desperta quando chega sem aviso prévio. Enquanto algumas correm, escondidas, de encontro a chuva, outras assistem pela janela a liberdade dessas que são imediatamente banidas pela atitude, quando os pais percebem que é hora de agir.
Há ainda aquelas crianças que a chuva surpreende a ponto de terem medo do que possa acontecer, se escondem no quarto, embaixo da cama, da mesa, atrás da porta e recusam-se a assistir a chuva pela janela.
Não sei quanto a você leitor, mas pra mim, ao cair a chuva, caem junto as lembranças, tão "frescas" a minha mente que não sei explicar.
Pelas vezes em que sentia medo de sua forma barulhenta de agir e disfarçadamente entrava no banheiro ou corria para perto de mãe.
Até que em um outono, temperatura média, chuva média, sol médio, tudo dentro da meteorologia, olhei pela janela, e pela primeira vez, não senti medo do que via, corri para o quintal de casa, olhei pra cima, fechei os olhos, e permiti que as gotas da chuva caísse sobre meu rosto, sobre meu corpo, molhando minhas roupas, minha alma.
Aqueles pingos nos olhos que ardiam no primeiro contato, descobri, naquele momento, o gosto da chuva, entendi porque as crianças sorriam sobre ela, porque mesmo os adultos diziam não, mas se seguravam para não dar mal exemplo a nós.
Não sei quanto a você caro leitor, mas para mim, isso tudo é saudade, muito mais que lembranças, quem dera tivesse descoberto antes a preciosidade desse bem natural, desses momentos únicos da vida, teria mais histórias para contar e mais gripes saradas. Mas "teria" não nos leva a lugar algum.