Cria da rua.

Eu sou cria da rua,
da tua, total falta de amor,
que um dia me deixou,
jogada na estação,
e de alguns cristãos,
que me deram um pedaço do pão,
pra minha fome acabar,
perdida,e com frio fiquei,
jogada lá, quase nua,
lagrimas? já não tenho mais,
já chorei pra me afogar,
nunca me desesperei,
quando estava assustada,
por você eu gritava!,
papai,vem me buscar,
estou no mesmo lugar,
onde você me deixou,
no meio da multidão,
com uma roupinha na mão,
o tempo passou, devagar,
o relógio foi o cúmplice,
de toda maldade humana, 
guardada naquele homem,
que um dia me atacou,  
enquanto era, molestada,
fiquei, no tempo parada,
quietinha, ali acuada,
olhei no relógio da torre,
as horas, não me serviam,
eram minutos, feito horas,
eram horas, feito dias,
nunca!, nem antes,nem depois!,
do meu corpo violado,
desacreditei no amor Deus,
e da providência divina,
enquanto era beijada, invadida,
pensava na minha mãezinha,
rezando pra eu dormir,
sempre pedia,sem nunca esquecer,
pra Deus me proteger,
me guardar de todo mal,
ouvi um grande estrondo,
seguido de um forte clarão,
quando apareceu do nada,
um cão forte e feroz,
atacando sem perdão,
o homem que me estuprava,
dilacerando o corpo esquelético,
o sangue da calçada descia,
morria o homem sem alma,
naquela esquina vazia,
continuei a minha sina,
pelos faróis da cidade,
limpando os vidros dos carros,
doze anos se passaram,
quando meus ouvidos, escutaram,
aquela voz, que jamais esqueci,
inconfundível, linda e calma,
que guardava na memória,
virei tremula e fria,
vi, minha amada mãe, que trazia,
nas mãos, um grande cartaz,
com informações, da filha perdida,
fiquei sabendo depois,
que meu pai morreu de remorso,
me procurou por toda sua vida,
que no dia, de uma grande briga,
por uma história, mal contada,
uma desconfiança, sem prova,
me deixou na estação, perdida,
achando ele, que eu, não era,
sua, verdadeira filha.