Primeiro dia de Carnaval Fev-2017

Lavo as louças do café,

Depois as louças e panelas do almoço,

Logo em seguida a mesa já está de novo completa para o jantar.

Ensaboando e esfregando cuidadosamente, depois enxugo com carinho, cantando quase em pensamento aquela antiga canção-

Peguei um Ita no norte e vim para o Rio morar

Adeus meu Pai, minha Mãe,

Adeus Belém do Pará;

Vou repetindo como um mantra estes dois versos até me cansar, então passo para o lá- lá -lá -ra -rá -ra-rarará para a Bachianas número cinco .

Vou devagar aprendendo a cultivar a paciência para as tarefas que não cessam nunca .

Em silêncio quase em oração agradeço a cada um destes objetos por nos servir e facilitar tanto nossas vidas.

De repente dou-me conta de que não estou só na cozinha, minha mãe está ali comigo ao meu lado, e ela era uma mestra nesta arte tendo servido por décadas em casas de famílias.

Também está comigo a minha esposa alertando-me pacientemente: Coloque os seus óculos, coloque seus óculos,

é o jeito dela de me dizer que que o serviço não está ficando cem por cento.

Acaba de chegar a Dona Maria, minha sogra com quem aprendi que que tudo que se decidiu fazer merece ser bem feito, e que aquilo que é certo tem que ser feito e preferido simplesmente porque é o certo, sem necessitar de nenhuma razão ideológica ou legal para que tal ação ou caminho seja o escolhido.

Ah! Estão também comigo a Dona Valentina , mãe do do meu amigo Alemão, que desde menina falava com os espíritos;

Dona Izabel, a mãe do lendário Geraldo Malaquias que me apresentou a música do Mozart e que me ensinou tantas ciências.

Carinhosamente lavando, ensaboando, enxaguando e colocando cada objeto em seu respectivo lugar de descanso até a suas próxima missão.

vou meditando e me reencontro com as mulheres mais importantes na minha vida.

Depois de preparar o café, sento na varanda e volto a reler o pequeno grande livro de Ítalo Calvino,

Cidades invisíveis e me distraio como uma velha tia a tricotar.

Quando canso meus olhos,

os descanso contemplando

o imenso azul distante entre as palmeiras.