INVADE-ME A MORTE

Invade-me a morte

Como pastilhas de alho a curar a chaga

Invade-me o ódio – ósculo consangüíneo decadente

Sobe-me à face, água sanitária com pérolas de pus

No instante caustico da manhã desmerecida.

Sei das galhofadas de Júpiter a meu respeito

Soube do vil despeito das irmãs meretrizes

Não compreendo o cumprimento das ondas que me faltam

Em riste a lama, o olhar escalpelado.

Coloco minh'alma na Maria de fatiar mortadelas

Torpor e chorume hão nas frestas do declínio

Restam-me baralhos e enxadas, todos convexos

Lambem-me velames e doses de cicuta amarelecida.

Gostaria de engolir todo o lamento do mundo

Ter-me-ia deixado tocar da felicidade a pálpebra

Só não tenho máscara de chumbo a requentar vergonhas

Nem entendo que seja preciso.

Por mais lesa que seja a tarde, não me verá a lisa e vultosa noite

Não me vingará a praia com seus castiçais de açúcar.

Quando tolher maldade minha e a devolver ao inferno, abluir-me-ei

Parecerei porco na fila da morte

Entornarei Porto em pétalas de corte

E por rir-me, terá o céu indigestão.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/08/2007
Reeditado em 09/07/2008
Código do texto: T599855
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