INVADE-ME A MORTE
Invade-me a morte
Como pastilhas de alho a curar a chaga
Invade-me o ódio – ósculo consangüíneo decadente
Sobe-me à face, água sanitária com pérolas de pus
No instante caustico da manhã desmerecida.
Sei das galhofadas de Júpiter a meu respeito
Soube do vil despeito das irmãs meretrizes
Não compreendo o cumprimento das ondas que me faltam
Em riste a lama, o olhar escalpelado.
Coloco minh'alma na Maria de fatiar mortadelas
Torpor e chorume hão nas frestas do declínio
Restam-me baralhos e enxadas, todos convexos
Lambem-me velames e doses de cicuta amarelecida.
Gostaria de engolir todo o lamento do mundo
Ter-me-ia deixado tocar da felicidade a pálpebra
Só não tenho máscara de chumbo a requentar vergonhas
Nem entendo que seja preciso.
Por mais lesa que seja a tarde, não me verá a lisa e vultosa noite
Não me vingará a praia com seus castiçais de açúcar.
Quando tolher maldade minha e a devolver ao inferno, abluir-me-ei
Parecerei porco na fila da morte
Entornarei Porto em pétalas de corte
E por rir-me, terá o céu indigestão.