Vivo

Morri ontem, estou viva, morri semana passada,

era início do mês; havia morrido várias vezes no

mês anterior, o ano inteiro, o ano anterior e assim

vou morrendo todos os dias. Na hora que passa,

no segundo que segue... Da morte, a dor no meu

peito se ajeita, recolho meus cacos, visto minha

nova roupa e o dia começa outra vez. Da morte,

estou viva, e, de tanto morrer, vivo. Não vivo como

vivem os pós-modernos, embriagados no seu amor

próprio, sempre por cima, de nariz em pé, antes

vivo, como um encarcerado, transbordando de

felicidade ao ver o brilho do sol ou mesmo igual

criança, que passado o choro, sabe, tem o dia inteiro

para brincar. E são esses instantes, ah... são esses

instantes... São esses instantes que vivo! E canto pois

esses instantes existem, caso contrário, já teria

morrido de vez.

*Inspirados na minha predileta Cecília Meireles.