Sou do tempo!

Ainda sou do tempo de brincar à macaca,

De jogar ao pião, de jogar à carica, e do arco na mão…

Tudo era alegria, e tudo era um bom passatempo…

Sou do tempo, de namorar à porta,

Com o pai à janela, para vigiar a donzela,

Não se vá ela perder nos braços do amor,

E mais tarde venha a chover na horta,

Depois ninguém a ia querer, e para a família seria um desprimor…

E para assim poder namorar, tinha do pai haver permissão,

Porque era importante, ter respeito, esse sentido de educação…

Sou do tempo do café feito no pote de ferro,

No tripé de ferro forjado sobre as brasas da lareira,

Depois coado por um pano de linho branco,

E ficar a “descansar” sobre a velha prateleira,

Para depois ser servido na malga de louça branca

Com leite e uma fatia de centeio com manteiga…

Era tudo tão bom, tão satisfatório, tão á boa maneira,

Era felicidade, naquele tempo ser jovem ou criança…

Sou do tempo de para o namorado, cartas escrever

E nelas palavras de amor terem um código a condizer,

Para que quem as abrisse nada conseguisse entender,

Era tão bom esse tempo, em que o amor era mais real

Em que tudo era mais sentido, e não como hoje desleal…

Sou do tempo de casar de vestido branco e flor de laranjeira,

Para aos olhos do mundo parecerem que iam como uma freira,

Mas muitas das vezes, já casados é que caiam na real…

Podia nesse tempo tudo isso ser muito bonito,

Mas para mim, aos meus olhos sempre foi uma baboseira…

Mas no meu tempo, é que era bom ter família, era unida, e verdadeira,

Todos se davam bem, e aos fins-de-semana no tempo de verão

Ia tudo para o pinhal fazer grandes jantaradas sobre uma fogueira,

Era tudo uma alegria, uma felicidade, era tudo de uma grande união…

Sou desse tempo, e nesse tempo tudo isso vivi com alegria e emoção

E não é porque tenho a idade que tenho, que não hei-de ter essa saudade,

Que não devo de recordar, ou me lembrar… Devo fazê-lo porque isso é salutar... É querer pela saudade grande que de tudo isso sinto e vivi, chorar, rir e desejar, que tudo de novo pudesse voltar…

Ah, quem dera que assim fosse… Voltar!

Maria Irene
Enviado por Maria Irene em 06/07/2017
Reeditado em 06/07/2017
Código do texto: T6047535
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