Escritos da condução n° 1
Existe uma cor tão indescritível no olhar de cada um de nós, uma avidez tão lívida e feroz quanto o coração de um menino... Esta lucidez mascarada é de tão tenro tecido, que lá no fundo está a nos conceber no grande anfiteatro de nós mesmos...
Temos buscado um motivo maior para sair de casa, mas não dizemos a ninguém... Ao primeiro raio de sol, só quem não gosta de poesia não vê que o amor desnuda-se em nossa frente como meta... Temos travado uma batalha interna todos os dias ao acordar, mas ao primeiro suspiro da noite, tudo o que queremos é voltar ao nosso berço...
Assim que a escuridão começa sua cópula divinal com a quente e monótona claridade, abdicamos da meta, abrimos mão do mistério e abandonados o altar que criamos em sonho na noite passada. Que triste renúncia, que treda ilusão...
Quantos homens ficaram, quanta sorte não vingou... Quantos sorrisos não abriram, quantos corações não bateram...
Quem sabe, um dia, não percebemos que o ápice da vida forjada na madrugada fria talvez seja a beleza dos lábios dela, ou o cheiro dos seus cabelos, ou o mistério do seu olhar...