Fashion Weak
Abre o guarda-roupa.
Dormem lá vestimentas de encobrir.
Pensa na barreira imposta.
Lamenta não ter o passaporte.
Quer entender o estilo dos fashionistas,
dizer o mistério com gravatas,
ninar seu filho num chapéu,
consolar a fome pela estampa de uma camiseta rasgada,
gritar as injustiças nas justas meias
e não falar de suas vergonhas, se não, para que serviriam as roupas? Trata-se de abraçar o mundo com mangas de jaqueta, costurando incertezas terrenas. Deus, por que não fizeste da minha boca algodão? Por que não a tornaste inanimada, porém anarquista? Por que não deixaste evidente esse furacão que, por vezes, forma-se na minha testa, mas não perfura o crânio? Por que nem mesmo existes para poder culpá-lo?
Tudo bem, culpemos os estilistas. Guardaram eles segredos muitos, esconderam a agulha de quem precisa costurar ideias. Parece que um pedaço de pano é o jeito de se fazer entender, quando esgotaram retratos da escassez – colados nos olhos dos bem vestidos.
Entende o lado inútil de seus desejos.
Não adianta descobrir tal ponto certo.
Tanto faz poliéster ou elastano.
Pobres, insignificantes lantejoulas.
É o terno mais caro que tem voz.
Pega seu melhor casaco.
Fecha o guarda-roupa.
Passa frio.