Tão Sereno
Neste último natal lembrei-me de você
Com um coração partido em dois
Reluzia ainda como prata polida
Aquele coração em suas mãos
E o sorriso em sua face
Tão envelhecidas mãos inexperientes
Sorrindo indefesa ao futuro
Dessa noite em que o sino tocou mais cedo
Mais cedo que de costume, cedo demais.
Um adeus tão sereno beijo de despedida
De partida para a lua de queijo
Onde há chuvas de leite morno
E habitantes vacas de terno e gravata
Deixando eu e meu baú de egoísmo
Adeus impensadamente recusado
Egoísmo insensato
Você só agora distante e já sinto saudades
Esta dor já existia bem antes
Mas é só o começo de todo o resto
De seus fios de cabelo que encontrarei
Do mundo que você deixou
Das roupas que você esqueceu
Nos olhos de quem você gerou
O fio sempre é mais fino
De quem traz maior alegria
O frio parece sempre mais gélido
Para quem observa a partida
Ainda ontem lembrei de você com um beijo
Sem saber porque
Neste último natal lembrei de você
Algo por dentro sabia a verdade
Acordou bem mais cedo
Para algo que ainda não despertei
Esperando chegar o dia em que nos encontraremos
Sob uma chuva de leite morno
Em algum lugar da lua de queijo
Meu bem, tenho uma nova para você:
O sofrimento acabou.